André Lobão
3 min readFeb 16, 2019

Quando um rio acaba e fica o cheiro ruim

Em tempos difíceis como vivemos hoje com o baixo astral reinante no Brasil, e principalmente no Rio de Janeiro, as falas de cidadãos comuns que vivem de seus precários empregos me fizeram ter uma constatação. Tá difícil...

Estando de férias resolvi com minha família conhecer os mares do Sul na aprazível Florianópolis. Já na saída do Rio, um funcionário da companhia aérea olha para minha filha e comenta comigo: "vocês irão fazer um belo passeio, vão se sentir fora do Brasil. Diferente dessa merda aqui (Rio) que já acabou faz um tempo, olha que sou daqui. Então aproveite e faça uma boa viagem com sua família" - disse o trabalhador.

Entrei no avião pensando no que disse o "moço" do check in e fiz logo a relação com os crimes da Vale em Mariana e Brumadinho, quando respectivamente a sua lama tóxica acabou com os rios Doce e Paraopebas, destruindo a vida local. O Rio está neste caminho com a lama trazida da chuva em seus eternas enchentes.
Ainda mais administrado por aventureiros evangélicos e protofascistas de plantão que só querem surfar literalmente em nossa desgraça.

Dois dias depois já em Florianópolis, após visitar o Mercado Público da cidade, e ter apreciado a gastronomia local, solicitamos um carro pelo aplicativo que todo mundo conhece e que não precisa ter o nome citado. Ao volante um barbudinho careca que se apresentou como técnico farmacêutico. Não tive a curiosidade de perguntar seu nome, mas iniciamos uma conversa sobre a reforma da Previdência, que obviamente ele criticou pelo fato de só ferrar nós os pobres mortais. "Querem nos sugar até a última gota de suor da nossa vida" - resumiu o motorista que se confessou um fanático gremista.

Ao notar que eu usava uma camisa do Fluminense soltou " ah, ganharam do "cheirinho" se referindo a última vitória do Flu contra o Flamengo no já também quase morto Campeonato Carioca de Futebol. Neste parte dou um parêntese para explicar que o apelido do clube rubro-negro no Sul é "cheirinho" , por conta de uma frase já manjada que nunca se confirma da torcida flamenguista citada ao disputar qualquer campeonato que é "sinto cheiro de título". Como o Flamengo não ganha nada nos últimos anos, a não ser o falido Carioca, a frase virou motivo de chacota entre as torcidas adversárias.

Mas voltando a conversa do carro, o motorista gaúcho, citando uma de suas experiências de vida contou sobre quando resolveu acompanhar o seu Grêmio ao Rio de Janeiro, justamente em jogo contra o Flamengo no Maracanã, no ano de 2009.
"Rapaz, a nossa caravana nem conseguiu chegar ao estádio. Se te contar você não vai acreditar, já na Rodovia Dutra a PMRJ nos abordou e fez um arrastão em tudo que tínhamos. De carteira a telefones celulares e ainda fomos espancados" - narrou.
E aí me lembrei da conversa com o trabalhador do aeroporto do Rio que me disse que o Rio de Janeiro tinha acabado faz tempo. E tristemente constato que concordo com ele.

Enquanto isso, parece que não sou o único a turistar pelo Brasil. Em Brasília tem presidente, enrolado, de camisa falsificada de time de futebol e de chinelo pousando para fotos oficiais e resolvendo como vai ser o futuro da nossa Previdência. Pelo visto, a coisa não vai cheirar bem. É lama que não acaba mais.

André Lobão
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Written by André Lobão

Apenas um jornalista antineoliberal, anticapitalista e brasileiro, acima de tudo.

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