Paolo Rossi e o meu álbum da Copa

André Lobão
2 min readDec 17, 2020

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As minhas lembranças da infância e adolescência que marcaram a minha vida basicamente se dão na memória futebolística. Cresci frequentando o Maracanã, ouvindo rádio e vidrado em copas do mundo.

Vi no maior estádio do mundo craques como Zico, Sócrates, Roberto Dinamite, Reinaldo e estrelas estrangeiras como Maradona.

As lembranças consolidadas surgem do ano de 1979, quando então eu tinha 8 anos de idade. Da Copa de 1978 não lembro de nada, a não ser um jogo chato para cacete entre Brasil e Argentina que acabou em 0x0.

Mas a Copa de 1982, na Espanha, era aquela que mais aguardei com a ansiedade dos meus 11 anos de idade. Nunca mastiguei tanto chiclete na minha vida por causa daquele álbum de figurinhas da Copa. Fiquei tão fissurado que perdi a conta das cáries que arrumei de tanto mascar o chiclete Ping Pong que distribuía as figurinhas.

Não completei o álbum e a seleção brasileira foi eliminada, mas fui mais vitorioso no jogo de bafo.

Sobre a eliminação, talvez tenha sido o meu primeiro trauma futebolístico e o mais doloroso. Nem o Fluminense me causou tamanha tristeza ao cair para a terceira difícil em sua fase tenebrosa em 1998.

Aquele 5 de julho de 1982 foi pior do que o 7x1 que tomamos da Alemanha aqui na Copa de 2014. A derrota de 3x2 para a Itália me deixou de uma forma tão transtornado que se eu fosse maior de idade, e pudesse beber, teria tomado o maior porre da minha vida.

Eu fiquei tão chateado que rasguei meu álbum da Copa e joguei minhas figurinhas repetidas no lixo, que depois se tornou um arrependimento que carrego até hoje. Vivi um luto de dois dias para aceitar a derrota da seleção brasileira e queria “matar” aquele magrelo do Paolo Rossi que acabou com o meu sonho de ver o Brasil campeão do mundo.

Depois de 38 anos ele morreu. Se foi silenciosamente como chegou na Copa de 1982, sem fazer barulho e estardalhaço. De forma inesperada, como aqueles três gols, naquela tarde no Sarriá, narrados sem nenhuma emoção na TV pelo Luciano do Valle: “Gol da Itália, Paolo Rossi”.

Comentei com um amigo da minha geração que quando ídolos e personagens do futebol morrem, como Maradona e Paolo Rossi, sentimos um vazio. É como você tentar assimilar a derrota de seu time e esperar todos saírem do estádio, tentando entender por aquilo aconteceu.

Muitos craques daquele álbum se foram como Sócrates e Maradona, entre outros. É como se descolássemos as figurinhas, deixando o espaço destinado sem nada.

O tempo é isso, nos leva as lembranças, ídolos e álbun

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Written by André Lobão

Apenas um jornalista antineoliberal, anticapitalista e brasileiro, acima de tudo.

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