André Lobão
2 min readSep 29, 2020

Os caretas do Leblon

Saudade dos botecos pé- sujos do Leblon quando se podia falar mal do Flamengo, políticos e governos, em que ainda se comia jiló, torresmo e moelas, como no antigo Ferreirinha na Rua João Lyra , bebendo uma Brahma gelada em um copão de requeijão.

Que saudade do bifão à moda Oswaldo Aranha, do Tio Sam,regado a uma bela porção de batatas portuguesas - havia um tempo que isso era prato chique -; dos blocos de carnaval Areia e Empurra que Pega, que após seus desfiles deixavam o bairro com aquele cheiro de mijo de banheiro mal-lavado de boteco pé-sujo.

Lembro de um Leblon em que nos seus botecos se misturavam porteiros, barraqueiros da praia, publicitários, guardadores de carros, jornalistas, empresários, médicos, advogados e artistas, que bebiam e trocavam ideias assistindo uma partida de futebol, em uma tela de 20 polegadas toda engordurada.

Agora no Leblon só existem bares gourmets de grife com pratos nomeados em francês, com os falsos ricos, enchendo a cara de proseco.

Não que o bairro nunca tenha deixado de ser um lugar de gente metida a besta. Sempre foi.

O Leblon sempre teve seus fiscais da moralidade, que sempre implicavam com quem mija na rua ou resolve beber a saideira cantando ou falando alto.

Mas tudo agora é gourmet, tudo é glamour, até os velhos pé-sujos fedore ntos que congregavam os bêbados de qualquer classe social, se elitizaram. O Leblon nunca mais foi o mesmo, até a praia ficou ruim.

André Lobão
André Lobão

Written by André Lobão

Apenas um jornalista antineoliberal, anticapitalista e brasileiro, acima de tudo.

No responses yet