O verão da Malu

André Lobão
3 min readJan 21, 2025

--

Eis que após um mês o verão deu o ar quente de sua graça no Rio de Janeiro.

Em família e com pouca grana, que se esvaiu no ralo do consumo de Natal, o jeito é pesquisar e ser criativo em um feriadão de São Sebastião do Rio de Janeiro. Para quem mora longe ir à praia passa a ser uma aventura, depois de ser pai de menina e ficar um coroa chato, como no meu caso.

O céu azul e a temperatura alta no Rio é uma imposição para sair de casa. O interior do apartamento nessa época de verão se torna uma sauna. Ao final do mês o desespero aumenta por causa da conta de luz, haja ventiladores e ar-condicionado….

Minha companheira Raquel em seu smartphone busca no Google um programa legal para nós três. E eis que surge uma programação musical no final da tarde do feriado carioca, o Baile de São Sebastião no Planetário da Gávea, Zona Sul do Rio, cuja atração preferida da Raquel e da Malu, era o “Pagode da Malu”.

Resolvidos e dispostos pedimos o carro do aplicativo para atravessar a cidade. Logo chegamos sob um calor infernal, e descobrimos que fomos uns dos primeiros a chegar no evento, fato já considerado normal por conta de nossa ansiedade.

Quando você é o primeiro a chegar em uma festa como essa, bate a neura se o evento será bom, e essa insegurança aumenta quando você observa que há mais seguranças e garçons do que o publico pagante. Além disso, a criança fica também preocupada quando não encontra outras crianças. Crianças são como os maçons, se reconhecem e interagem em qualquer ambiente.

Mas o que queríamos era curtir o ambiente e o show da Malu. Ao caminharmos para onde estava localizado o palco, encontramos a Malu para a felicidade da Raquel e da nossa Malu, elas se cumprimentaram e tiraram fotos, sim aquelas que sempre vão para o Instagram quando encontramos o nosso artista favorito.

Malu, a cantora foi muito simpática ao falar para a pequena Malu que o show acabaria sendo particular, dada a quantidade de pessoas, que até aquele momento éramos nós três. Eu, Raquel e Malu.

Caía a tarde como um viaduto e chegava à noite ao som da “Princesinha do Pagode”, a Malu. Uma jovem gaúcha de Porto Alegre que tenta a sorte no showbiss carioca, cantando inesquecíveis pagodes dos anos 1990.

O show começa e o público vai chegando. Raquel, junto com a pequena Malu, se esbalda. “Olha, estamos sozinhos no gargarejo”, comenta preocupada em “pagar de tiete”. Maluzinha tira fotos e faz vídeos da Malu cantora.

Neste momento me bate uma reflexão, e se o show fosse perto da minha casa no “Cacique de Ramos”, com certeza estaria mais cheio. Ainda sou daqueles que acha que o povo da Zona Sul não curte pagode, mas ledo engano. Gosta sim, ou melhor está começando a gostar.

E a plateia foi crescendo, é o show foi esquentando, com o calor contribuindo. E aí você começa a perceber que o pagode, antes tão discriminado e alvo de preconceito da playboyzada carioca, agora tá nas paradas de sucesso.

Desengonçados e cinturas dura dançam e cantam, a cerveja tá sendo mais vendida que água. Isso é sinal que o show tá agradando e tá bom.

A Maluzinha está dançando e a Raquel cantando. E eu curtindo o pagode, do meu jeito, pode acreditar.

Assim, começou o nosso verão, o verão da Malu!

--

--

André Lobão
André Lobão

Written by André Lobão

Apenas um jornalista antineoliberal, anticapitalista e brasileiro, acima de tudo.

No responses yet