O chopp tem dono!

André Lobão
3 min readJan 1, 2025

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O ano de 2024, nas suas últimas horas, ainda me reservou uma situação inusitada durante a celebração para a chegada do novo ano.

Ao participar de uma festa de réveillon em um condomínio próximo do meu bairro, eu tinha informação inicial que era tudo “all inclusive”, e aí ao chegar me deparo que nas proximidades da minha mesa havia uma choppeira. Penso logo que a mesma está facultada para os participantes do evento. E assim trato de procurar um copo para brindar o ano novo.

As crianças brincam e tem uma banda com quatro “coroas” tocando músicas dos anos 1980/90, sucessos de rock balada, que nem todo mundo gosta. Mas a festa é bonita, do outro lado do salão tem um banquete de petiscos e de drinks, o preparo de caipirinhas e outras bebidas.

A criançada se diverte no espaço, em tremenda correria, muito legal.

Atravesso o salão em busca de um copo para encher o meu “tanque”, mas consigo apenas um de plástico de 150ml.

Fico com inveja do pessoal que usa esses copos térmicos, que agora estão em evidência.

Me dirijo a choppeira e encho meu copinho, dando boa noite para uma rapaziada que me respondia desconfiada, ao meu boa noite. Logo imaginei que os simpáticos rapazes integravam a turma dos coroas locais.

Sentado e já jogando conversa fora com o pessoal da minha mesa, fico observando e refletindo como estamos sob uma geração Instagram, em que as pessoas ficam empunhando seus smartphones, em busca das melhores selfies, entre ajeitadas de cabelo e caras e bocas, com direito a biquinhos. Minha companheira reprova meu comentário. Sei lá, já estou achando esse tipo de situação cafona. Sou um chato?

Mas percebo que meu copo está esvaziando rapidamente, resolvo então conseguir um copo maior, retiro um de 500ml na banca dos drinks.

Meu humor já melhorou, e pela sexta vez vou na choppeira, com os caras me olhando cada vez mais desconfiados.

Minutos depois um amigo, pai de uma amiguinha de minha filha, me pergunta:

“Lobão você está aí no racha do chopp?”. Incrédulo respondo que não, e penso que cometi uma tremenda mancada. Ele ri da situação, “cara você é doido…”

De imediato, me lembro que fazia, pelo menos, uns 30 anos que entrei em uma festa de casamento errada, percebendo a mancada depois de uns 15 minutos, após beber algumas doses de whisky. A festa de casamento certa era ao lado de outro salão de festas que eu estava…

Mas voltando ao final de 2024, eu tinha que resolver a situação inusitada de estar bebendo o chopp daquela rapaziada que não me conhecia, me achando, claro, um sujeito “cara de pau”.

Bom, o chopp estava gostoso e eu queria continuar bebendo. Daí procurei o sujeito que tinha a cara mais fechada ainda, um tipo “leão de chácara” com um blusão estampado de botões, que estava com cara de pouco amigos.

“Fala meu caro, eu percebi que o chopp não faz parte do all inclusive do evento. Então, quero pedir desculpas pelo inconveniente e saber se posso entrar no racha, e continuar saboreando esse chopp maravilhoso”, eu disse, abrindo a conversa.

“Olha, o sr. já bebeu pelo menos 10 chopps, não tem problema. Eu inclusive achei que o sr. estaria aqui convidado pelo nosso amigo “Bolsonaro”, mas se quiser continuar bebendo terá que entrar aí no racha”, me informou o sujeito que organizava o acesso à choppeira.

Ele ainda me explicou que o “Bolsonaro”, em questão, seria um morador do condomínio, um dos articuladores do chopp.

Então, com um sorriso amarelo, e muito sem graça, pedi dados para fazer o pix. Feita a transferência, o pessoal já me olhava com mais fraternidade.

E bebi, segundo minhas contas, mais 10 chopps.

É meia noite e o clima é de abraços, brindes e fogos. A banda retoma o som cantando aquelas músicas do rock Brasil que não suporto mais.

“Falta pagode, mas tem cerveja!”, digo, com toda certeza.

Feliz ano novo!

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André Lobão
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Written by André Lobão

Apenas um jornalista antineoliberal, anticapitalista e brasileiro, acima de tudo.

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