O cagão da praia
O reveillon em Copacabana definitivamente não é para amadores. O último que passei lá foi o do ano de 2007, fazendo a preparação etílica no antigo “Sucomania” da Rua Paula Freitas, um misto de loja de sucos, boteco e restaurante que já não existe mais.
Com minha companheira e um casal amigo, conseguimos uma mesa e em bebíamos divinamente como não poderia deixar de ser.
A partir de 22h30 percebemos que a fila do banheiro estava enorme, sendo que a maioria que aguardava a chance de descarregar o excesso de cerveja não estava consumindo no bar. Aliás, um dos gargalos da festa do reveillon na praia mais famosa do Rio é a falta de banheiros como também acontece no Carnaval.
No dia seguinte, os bacanas e conservadores endinheirados de Copacabana reclamam do cheiro de urina e quantidade de bosta nos canteiros dos prédios. E sempre, a mídia produz matérias culpando a falta de educação do povão, omitindo a responsabilidade da Prefeitura e das companhias de cerveja. Enfim, todo ano é a mesma coisa.
Mas de volta ao “Sucomania”, já bem alegrinho, percebi, por volta de 23h, que a fila do banheiro havia travado, com pessoas aguardando a vez na calçada. Foi então que levantei de minha cadeira e com a voz em alto brado perguntei: “Quem é o cagão da praia?”, e incrédulas as pessoas da fila se entreolhavam e algumas davam gargalhadas.
Repeti a pergunta por três vezes, e parei a pedido da minha companheira Raquel. “Lobão cala essa boca que isso vai dar confusão, pelo amor de Deus!”
Passados 10 minutos eis que em nossa mesa chega um cara muito aborrecido e me dirige a seguinte pergunta: “Era você que estava perguntando quem era o cagão da praia?”. De pronto respondi que sim e perguntei: “Por que, era você?”
O sujeito não gostou e de imediato a confusão se formou, com a turma do “deixa disso” entrando em ação.
Em tom debochado eu ainda dizia: “Tá vendo aí pessoal, apareceu o cagão da praia, por isso a fila do banheiro ficou desse jeito, enorme!”
E o cara irado gritava: “Esse maluco tá me chamando de cagão, vou quebrar a sua cara!”
Para por ordem na situação, o gerente do boteco, seu Manolo, um espanhol com cara de mau acalmou os ânimos. “ Vamos parar com esta ‘pora’ e ficar bem quietos, ‘carajo’. A partir de agora quem quiser cagar e mijar no meu bar terá que pagar, até quem é cliente!”.
E 14 anos depois fica a lição de que uma brincadeira com deboche, e sem limites, pode terminar mal, e que megaeventos de rua não oferecem nenhuma estrutura até para uma simples mijada.