Distopias cinematográficas
Neste feriadão de Natal consegui assistir dois filmes que considero bem distopicos. O primeiro, uma ficção, "O Mundo Depois de Nós", uma produção estadunidense estrelada por Julia Roberts. O outro é um documentário cujo título é "Nascido em Gaza", que mostra o cotidiano de crianças palestinas que vivem na Faixa de Gaza, após os bombardeios perpetrados por Israel em 2014. Ambos os filmes estão em cartaz no Netflix.
"O Mundo Depois de Nós" (Leave the World Behind) aborda, a princípio, como se dão as relações no universo das novas tecnologias e da dependência que elas causam. Exemplos que fazem parte do nosso cotidiano como alugar uma casa com piscina por um aplicativo, sem qualquer tipo de contato presencial; o desespero de viver sem Internet por conta de um blecaute; usar um smartphone para fotografar sem permissão e sofrimento de uma adolescente por não conseguir assistir o final da sua série favorita no streaming.
A ficção mostra, sobretudo, a deterioração social coletiva diante de uma situação de abandono do estado em uma situação de ataque cibernético aos EUA. Além do racismo e o culto à individualidade e armas, tão marcante na cultura estadunidense. O colapso e caos que muda a rotina das pessoas comuns, que reagem a partir da desconfiança e medo. A narrativa do inimigo externo, a Rússia, a China e o Irã que unidos comandam um ataque contra o país mais poderoso do mundo.
O filme tem um roteiro bem amarrado, de suspense psicológico e apocalíptico, tem produção executiva do casal Barack e Michele Obama. Coincidência?
Já “Nascido em Gaza” (Nacido en Gaza) é um documentário espanhol que mostra a realidade das crianças massacradas pela ocupação israelense, e o desenvolvimento do estresse pós-traumático decorrente dos intensos bombardeios no ano de 2014.
O filme do diretor espanhol, Hernan Zin pode ser considerado um manifesto que denuncia o genocídio palestino promovido pelo estado de Israel que mata em sua maioria crianças. As que sobrevivem apresentam sequelas emocionais e físicas.
Naquela série de bombardeios ocorridos entre o dia 7 de julho e 26 de agosto de 2014 , Israel matou 507 crianças, com o registro de mais de 3 mil feridos. Números que podem ser considerados insignificantes, quando temos até o dia 19/12/23, mais de 8 mil crianças palestinas mortas , a partir de 07/10/23.
Bisan, Malak, Mohamed, Layan, Jamile , Mahmoud, Motassem, Rajaf, Udai e Sondos. Cada criança com sua história de perda familiar e trauma, tentam reconstruir suas respectivas vidas sem que haja qualquer perspectiva de melhoria.
Você vai perguntar, no que esses dois filmes se relacionam? Sim, eles tem um elemento comum que é o ex-presidente dos EUA, Barack Obama. Ele foi presidente do estado mais armamentista do mundo, que apoia incondicionalmente a política genocida do estado de Israel, que propagou o caos e colapsou países como Líbia, Síria, Ucrânia, entre tantos outros que não se alinhavam com a política de Washington.
Obama agora parece enxergar como grande negócio aplicar sua fortuna como produtor de entretenimento, em Hollywood, às custas das vidas das crianças mortas e mutiladas pelas bombas, armas de fogo e mísseis fabricados e exportados por seu governo para Israel.
Resta saber se algum dia Hollywood vai contar a história do genocídio palestino e do calvário das crianças de Gaza.