A vizinha faladeira e o plano de saúde
Minha fracassada experiência em vender planos de saúde teve algumas passagens marcantes. Uma delas foi em 1999. Após ler um anúncio de vagas em classificados de um jornal aqui do Rio, participei durante um mês de um curso de formação de corretores de uma grande operadora, que não vou dizer o nome para não fazer jabá, e tomar algum processo. Já que hoje em dia não se pode falar mal de ninguém.
Ao final do programa de formação era exigido que você só poderia trabalhar de terno e gravata. Eu duro, e desempregado, não tinha dinheiro nem para comprar uma cueca, quanto mais um terno completo, com sapatos sociais que nunca gostei de usar.. Minha salvação foi uma ex-cunhada que financiou a compra da indumentária.
Um dia, após ter feito uma distribuição de panfletos em caixas de correio em um condomínio em Jacarepaguá, o Bosque dos Esquilos, toca meu telefone celular. Naquela época eu tinha um celular velho da marca Ericsson que era o chamado “pai de santo” , pois só recebia ligações. Certo dia, o aparelho toca com uma senhora querendo agendar uma visita para que eu apresentasse o plano de saúde.
Ela tinha mais de 60 anos de idade e seria a minha maior venda, pois planos para pessoas a partir desta idade são bem caros.
O esquema da operadora funcionava assim: o primeiro pagamento do cliente era do corretor (100%), na segunda confirmação de pagamento a metade era do corretor , e a terceira confirmação, e última parte era de 25%.
Logo imaginei, contando com o “ovo da galinha”, que com a grana da venda pagaria a minha cunhada o bendito terno, financiado no cartão de crédito dela.
Sendo assim, cheguei na casa da cliente todo perfumado, penteado com gel e com aquele terno que eu finalmente iria conseguir pagar. A confiança no sucesso da venda era tanta que fui até de táxi do bairro do Grajaú, Zona Norte do Rio, até Jacarepaguá, na Zona Oeste.
Ao chegar fui recebido com muita simpatia e um saboroso cafezinho com torradas. Papo vem, papo vai, apresento o plano, falo da rede credenciada, regras para doenças pré-existentes e de outras especificidades do plano. Tudo fluindo para o fechamento da venda. Eu pensando finalmente em quitar o terno.
Nisso, durante a conversa, toca a campainha da casa. Era uma vizinha que logo percebi, era bem próxima da minha cliente.
Eu já tinha finalizando todo processo, preenchendo os formulários da operadora, a cliente já com o talão de cheques em mãos, e imaginando ir logo para o banco fazer o depósito após fechar o negócio. Então, começo a prestar atenção na voz daquela vizinha faladeira.
A dita cuja começou a contar para a minha cliente uma experiência nada boa de uma parente sua com o mesmo plano de saúde que eu representava.
Falou tanto, mas tanto que eu comecei a observar o semblante da minha cliente, olhando para as suas mãos, o largar da caneta e o fechamento do talão de cheques e finalmente a cara de decepção.
Ainda tentei argumentar e explicar que alguns inconvenientes podem ocorrer, mas que tanto eu como a operadora daríamos o devido suporte em casos de problemas e tal, mas não adiantou. A vizinha faladeira negativou minha venda. A cliente que me ligou interessada no meu plano de saúde, que me recebeu com um cafezinho gostoso não queria mais fazer negócio.
E aí, sem ter o que fazer, e me sentido frustrado me despedi, recolhendo os meus formulários e minha apresentação na minha pasta do tipo “007”, que também financiei para trabalhar. Desalentado meti a viola no saco e me despedi com sorriso amarelo e pensando com os meus botões: “porra de vizinha faladeira que queimou minha venda, agora como vou pagar essa porcaria de terno?”