A mídia brasileira e seu desprezo pelo contraditório

André Lobão
2 min readFeb 26, 2019

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Considerado um dos princípios básicos do jornalismo, a isenção ou como muitos preferirem, a ponderação, é hoje artigo raro nos conteúdos produzidos pela grande mídia no Brasil.

Atualmente, o maior exemplo disso é o enfoque na cobertura editorial sobre a tão propalada reforma da Previdência. Pode-se dizer que é unânime a lógica da “verdade absoluta” sobre a necessidade da reforma no sistema previdenciário do país com o discurso único reinante dos analistas e veículos.

Em uma sociedade que se considere democrática o debate sobre temas de interesse público como esse merece no mínimo a possibilidade da opinião do outro campo discordante, fato que claramente não acontece. Você por acaso já percebeu em alguma matéria ou reportagem dos grandes de imprensa do Brasil uma mínima avaliação de algum especialista contra a reforma da Previdência nos termos atuais propostos anteriormente pelo governo Temer e agora sob a presidência de Jair Bolsonaro?

Na prática, o que está sendo aplicado é o conceito de “Agenda Setting” com a velha tática de moldar a opinião pública, influenciando as pessoas na aceitação de uma reforma que retira claramente direitos. Assim, é formado um ambiente favorável para implementar o que é de interesse do “Deus Mercado”, protetor dos especuladores e banqueiros que estão ávidos na grana do sistema previdenciário.

Por exemplo: não há nenhuma abordagem ou debate sobre os pontos negativos da chamada capitalização, modelo tão citado pelo ministro Paulo Guedes que jogou na linha abaixo da pobreza, aposentados no Chile.

Quem explica por que a reforma da Previdência é ruim?

Pela internet e na chamada mídia alternativa ou marginal, temos acesso a especialistas que discordam da reforma da Previdência e que apresentam teses para lá de plausíveis como a auditora Maria Lúcia Fatorelli, integrante da Auditoria Cidadã Dívida, que dificilmente você leitor deste texto terá a oportunidade de ver uma sonora ao Jornal Nacional, por exemplo. Ainda temos até liberais como o ex-banqueiro Eduardo Moreira, fundador do BTG Pactual, que se colocam claramente contra a reforma. Como fonte a ser consultada podemos citar Sara Granemann, professora da Escola de Serviço Social da UFRJ, entre tantos outros que discorrem em seminários, audiências públicas e canais de internet.

Boa para quem cara pálida?

A verdade é que a mídia aplica um discurso de consenso que não existe, quem é dissonante simplesmente é ignorado. O que se faz hoje na produção de conteúdos informativos no Brasil é meramente uma ação de propaganda em prol de interesses de mercado.

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Written by André Lobão

Apenas um jornalista antineoliberal, anticapitalista e brasileiro, acima de tudo.

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